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1823-2023: Três anos para o bicentenário


Chegamos ao mês de agosto de 2020 e nos preparamos para comemorar duas das mais importantes datas do calendário caxiense: o 1º de agosto em que comemoramos a nossa adesão a Independência do Brasil, conquistada com sangue e luta e o dia 10, nascimento de nosso poeta maior, Antônio Gonçalves Dias. Todo o ano, desde a libertação da cidade ocorrida em 1823, a nossa adesão é celebrada na cidade, de missas a festejos e nos últimos anos com feriado e eventos musicais o que acabou confundindo muita gente com a data do aniversário da cidade. O nascimento de Gonçalves Dias é igualmente comemorado desde que o poeta colocou Caxias no roteiro nacional das letras.  

Quando ocorreu, em 1822, a independência do Reino de Portugal, o Brasil aderiu ao projeto de nação, exceto alguns focos, como na Bahia, Ceará, Piauí e Maranhão. E o último desses estados a aderir ao Brasil foi o Maranhão, Caxias, a última cidade quase um ano depois do Grito do Ipiranga. É de se imaginar que uma data desse impacto na história nacional seja recordada com muito orgulho, pois o povo de Caxias está na história do país. Gonçalves Dias é venerado não só em sua terra natal, mas no resto do Brasil e no mundo, citando sempre sua Caxias aonde é lembrado.

Em 2023, ou seja, daqui a exatos três anos, Caxias comemorará 200 anos dessas duas datas. É uma oportunidade que poucas cidades tem de celebrar duas das mais importantes datas de sua história em conjunto e com uma simbologia numérica.

Comemorações como essas são importantes para recordar a história de luta do povo, de sua localidade, suas raízes e valorizar esse espaço, continuando a fomentar culturalmente a sociedade. Para se ter uma ideia, a organização da celebração para o bicentenário da Independência do Brasil, que será celebrado no mês de setembro de 2022, já iniciou desde o ano passado com a criação de comissões responsáveis por esta temática.

Organizar comissões de atividades como essas para se comemorar datas ou angariar fundos para homenagens a figuras, eram bastante comuns em Caxias nos séculos XIX e XX, quando a sociedade em geral se mobilizava em prol de uma causa. Muitas obras e monumentos na cidade foram construídos graças a essas atitudes de bravos caxienses que amavam sua terra. Assim foi erguido o Mercado Público (atual sede da Prefeitura Municipal), praças como a da Igreja Catedral e bustos, como o próprio Gonçalves Dias, e os de Coelho Neto e Dias Carneiro, ambos na Panteon.

No nosso 1º Centenário de Adesão a Independência, ocorrido no ano de 1923, Caxias foi uma festa só. Durante meses a sociedade se mobilizou para organizar uma festa memorável, digna de sua importância histórica. E assim o fizeram. Durante uma semana inteira a cidade realizou solenidades cívicas, religiosas e muitos bailes nos palacetes dos coronéis e nos salões de sociedades.

Do Morro do Alecrim se anunciava com tiros de canhões (um canhão usado em 1823 e hoje situado na praça Duque de Caxias) o amanhecer do dia e o inicio das solenidades. Os sinos das fábricas do Ponte e da Manufatura soavam junto com os sinos das igrejas como uma banda de fanfarra. Cada grupo era responsável pelo evento do dia durante a semana do centenário. Assim, clubes dos operários como a União Operária e Centro Artístico realizavam seus eventos, seguidos pela Câmara Municipal, Loja Maçônica, as fábricas, grupos de senhoras e grêmios estudantis. As pessoas saiam em passeata pelos pontos da cidade relembrando a data e no dia do aniversário do poeta, se reuniram em frente ao seu busto na praça Gonçalves Dias onde recitaram poesias e os oradores discursaram sobre a sua vida e importância literária. Foi uma celebração que mobilizou toda a Caxias.

Cem anos depois chegou nossa vez de realizar esta festa. Quem é desta geração e viver até esta data deve-se sentir orgulhoso, pois é uma oportunidade única de se comemorar datas com uma numeração simbólica como um centenário.

Nos festejos do Bicentenário de Adesão a Independência, a cidade de Caxias deve voltar suas atenções ao resgate da nossa memória, tão apagada nas últimas décadas. O desgaste cultural e patrimonial caxiense é visível. É hora de retomar políticas de preservação histórica, seja com normas e leis e obras de cunho patrimonial nos chamados ‘lugares de memória’ da cidade. Lugares esses onde ocorreram eventos significativos de nossa história e sequer existe pelo menos uma placa informativa naquele espaço, passando em branco por quem por ele trafega. 

É importante lembrar que não existe um único monumento dedicado a data 1º de agosto em Caxias. Exceto o Morro do Alecrim, que tem seu topônimo em referência ao revolucionário cearense João da Costa Alecrim, que participou da luta pela nossa independência, não existe nada em alusão a esta data. Outro nome, o da rua 1º de agosto que ligava as praças da Catedral a Matriz, importante via que também homenageava a data, foi trocado e não mais existe em seu centro histórico.

Dois locais são importantes neste 1º de agosto. O já citado Morro do Alecrim, onde o Major Fidié se estabeleceu com seu Quartel Geral e a região do Atoleiro, antiga Fazenda Paraíso onde atualmente está o Shopping Center. Foi nesse local em que se reuniu o Exercito de Libertação Brasileiro e onde ocorreu uma das batalhas mais dramáticas da Independência do Brasil, onde morreram brasileiros e soldados do exercito português. Não existe nada nesses locais.

Já sobre o poeta Gonçalves Dias, o local de seu nascimento pertence ao município de Aldeias Altas. A casa em que ele viveu quando jovem, foi demolida. Essa rua não tem seu nome e nem alguma referencia a ele. A praça Gonçalves Dias está ali, mas seu entorno vem sofrendo imenso desgaste com obras irregulares e ausência de leis urbanistas.

São questões que devem ser debatidas e solucionadas pela sociedade e o Poder Público. Além de leis de restauração e preservação, além de obras, também devem ocorrer eventos sociais.

Uma coisa é importante: A festa do Bicentenário não deve se resumir a um evento com bandas musicais. Nossa cidade não merece ser menosprezada desta forma.

Basta lembrar que na inauguração da Praça Duque de Caxias, o prefeito Aluísio Lobo mobilizou e trouxe a nossa cidade os restos mortais de Duque de Caxias, além de objetos pessoais do militar que ficaram expostos para o caxiense, como sua coroa e espada, além de autoridades museólogas e militares que explanaram sobre o Patrono do Exército no Teatro Fênix.

O Programa do Bicentenário deve tratar de questões relevantes as datas celebradas. Alguns atrativos como peças históricas deveriam ser trazidos a Caxias neste evento. Por exemplo, parte dos destroços do navio Ville de Boulogne em que Gonçalves Dias faleceu, foram guardados e está em duas partes: uma está em exposição no Museu Histórico e Artístico do Maranhão e a outra com a Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro. Quem sabe, mais de cem anos depois as duas peças se encontrem novamente agora em Caxias? Essa é só uma peça, de tantas outras relativas a história de Caxias que estão pelo Brasil e no Maranhão. Outros atrativos também devem ser realizados, como livros, prêmios ou concursos literários, artísticos e culturais em geral para incentivar a comemoração da data.

Literatura, leis, atrativos de objetos históricos e novos monumentos. Que maravilha para nossa cidade!

Um verdadeiro esforço deve ser elaborado a partir de agora, pois tudo isso requer muito planejamento e tempo para que se torne viável, até mesmo em busca de verbas públicas ou parceiros para viabilizar as celebrações. Deve ser criada, o mais breve possível, uma Comissão para organizar o Programa do Bicentenário, o Ano do Bicentenário e a Semana do Bicentenário de Adesão a Independência e nascimento de Gonçalves Dias.

Devemos viver, a partir de agora, no clima dos três anos que virão. Três anos para refletir nosso futuro como cidade, exercendo nossa cidadania em prol de um futuro melhor. Envolver toda a sociedade em um único objetivo, que é o de descobrir a si próprio, seu papel na cidade e ser exemplo para as próximas gerações.

Está aqui lançado o desafio de todos nós de realizarmos uma cerimônia a altura da história de nossa cidade. Temos tempo.


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