Caxias-MA 23/11/2024 11:41

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Wybson Carvalho

Recanto do Poeta

Poemas ao meu torrão


Canção ao exílio 

Na minha terra havia  palmeiras e o canto dos sabiás.

nela, exalava o perfume dos jardins urbanos.

dela, ouvia-se a linguagem singela do cotidiano.

com a minha cidade crescia a romântica dos poetas...

 

A inimizade humana passava por sobre ela

em eólica turbulência rumo às outras plagas,

para derramar-se noutros cenários de ganância existencial.

 

À minha terra, na infância, ouvia-se sinfonias sabianas

nas manhãs iniciais de um futuro já desenhado ao abandono. 

e, agora, quais árvores darão abrigo a outros pássaros canoros

para entoar um canto de saudade?

Personagens 

Sou espinho entre rosas    

que são belezas no jardim;

abrigo ao pontiagudo perigo

em iminência contínua de ferir...

 

Sou veleiro errante num mar de calmarias

atracado em porto plácido;

mas, sob pesadelos de ventanias

e ressacas possíveis...

 

Sou  foco que somente resplandece

sob a luz de estrela única;

advinda de céu cinzento

que só se enche de nuvens turvas...

 

Sou barulho que a se próprio ensurdece;

rendendo-se em sangue esvaído;

às quedas da moldura de carne

que ao álcool retornará...

 

Sou travessia destinada às mágoas

de mesmice acumulada;

quanto mais existida

mais e mais se embriaga...

Caxias, cachos de flores 

Quem amou, verdadeiramente, te chamou de princesa 

e quando quiseram arrancar de ti o sumo nobre...

não aceitou beber o cálice com teu sangue

 

Quem ama, fielmente, te chama de lírica poesia 

e quando querem declamar de ti o poema nativo...

atenta para ouvir os versos brancos do teu véu

 

Quem nunca amará, em verdade, 

te trairá sob cunho promíscuo...

e quando quiserem usufruir de ti 

a beleza em ônus mercenário...

ofertará a plebe de teu reino 

e te deixará órfã de viva natureza...

Limites 

Céu,

mira diária do meu cotidiano vertical

onde está a busca credora?

 

Terra,

palco dos jardins ilusórios da certeza:

esses ingênuos céticos da realidade

desvairada no camarim do teatro infernal.

Refeição da carne 

Não cabe ao homem o pão,

não cessa à vontade a sede,

embora,

o trigo e o vinho

dividam o espaço, também,

habitado por vermes.

O último adeus 

Nas asas do tempo já cumprido

irei num voo rasante

até a parede da eternidade incerta

para descobrir o que nem fui.

Poema da parição 

Mulheres, vacas, éguas, porcas, cadelas

e tantas outras fêmeas mais... 

- todas paridas - 

enfim,

eis que surgem e se multiplicam

os animais no corpo da terra, mãe.

Dias e noites pandêmicos em Caxias! 

Há um aroma de flores  caídas no chão das manhãs, tardes e noites dos dias existenciais à pandemia.

...há um ar velórico tal qual o ensurdecedor silêncio de finados sem o badalar dos sinos da Igreja de São Benedito, acordando o segredo de sonhos dos embriagados  à solidão dos bares ao entorno da Praça Vespasiano Ramos.

...há uma angustia com sensação de um medo repentino, como se a qualquer hora, por cima das árvores de oitis banhadas pela chuva de lágrimas desse tempo, tudo estivesse por terminar.

...um rasga-mortalha aparece apagando o sol e a lua à eternidade dos nossos dias e noites existentes para o nosso pedido de perdão antes do fim!


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