O romancista, ensaísta e diplomata José Pereira de Graça Aranha. Maranhense de São Luís o escritor filho de uma família abastada foi desde sempre acostumado a uma educação esmerada. Ainda jovem foi para Recife estudar direito, exerceu cargos na magistratura e na diplomacia brasileira, nesse último esteve em diversas nações a serviço do Itamaraty, dentre elas Inglaterra, Noruega, Holanda e França.
Com a estadia nos países europeus o escritor teve a oportunidade de acompanhar o surgimento das vanguardas do inicio do século XX, as mesmas que propunham mudanças drásticas nos meandros da arte mundial. Essas movimentações desencadearam no que se convencionou a chamar um pouco depois de arte moderna. No seu retorno ao Brasil com essas informações em mente Graça Aranha lança em 1902 o romance Canaã que é considerada sua obra prima. No período estando exercendo o cargo de juiz de direito no interior do Espirito Santo, o autor se apropria das ideias das vanguardas europeias fundindo-a com o imaginário regional Capixaba para dar luz ao enredo do romance. Implicitamente o grande escritor propunha novos rumos na literatura brasileira, um ar de revolução varria as paragens literárias do mundo inteiro influenciadas pelos europeus. Na opinião do escritor havia chegado o momento do Brasil participar desses debates.
Graça Aranha havia sido um dos membros fundadores da Academia Brasileira de Letras anos antes, um fato curioso desse período é de como foi aceito membro sem mesmo ter lançado um livro, a época iniciava os escritos de Canaã, ao citar trechos nas primeiras reuniões chamou a atenção de Joaquim Nabuco e Machado de Assis. Após a repercussão do livro Graça Aranha tenta levar os ares de inovação para os meandros da Academia, porém sofre uma forte repressão, com destaque para os comentários contrários de outro maranhense o escritor Coelho Neto.
Segundo muitos críticos e especialistas, no período as inovações estéticas contidas no romance Canaã acabou por aproximar Graça Aranha dos jovens paulistanos que propunham igualmente uma profunda renovação nas artes no Brasil, envolvendo a música, literatura e artes plásticas em geral. No lançamento da Semana de Arte Moderna de 1922 o escritor realiza o famoso discurso chamado O Espirito Moderno (A Emoção Estética na Arte Moderna). Graça Aranha é mais um dos grandes escritores surgidos nos períodos de ouro da Athenas Brasileira, que colocava o Maranhão em destaque na literatura brasileira. Mais um maranhense de importância seminal para um dos momentos mais controversos e férteis de toda a história da literatura brasileira.
A emoção estética na arte moderna
"Para muitos de vós a curiosa e sugestiva exposição que gloriosamente inauguramos hoje, é uma aglomeração de "horrores". Aquele Gênio supliciado, aquele homem amarelo, aquele carnaval alucinante, aquela paisagem invertida se não são jogos da fantasia de artistas zombeteiros, são seguramente desvairadas interpretações da natureza e da vida. Não está terminado o vosso espanto. Outros "horrores" vos esperam. Daqui a pouco, juntando-se a esta coleção de disparates, uma poesia liberta, uma música extravagante, mas transcendente, virão revoltar aqueles que reagem movidos pelas forças do Passado. Para estes retardatários a arte ainda é o Belo.
Nenhum preconceito é mais perturbador à concepção da arte que o da Beleza.
Os que imaginam o belo abstrato são sugestionados por convenções forjadoras de entidades e conceitos estéticos sobre os quais não pode haver uma noção exata e definitiva", iniciou seu discurso àquela semana, Graça Aranha.
Por Natan Castro
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