O rio refém
A parca víscera líquida sob a ponte
leva a magra lâmina doce ao destino corrente
para a imensidão gorda de boca gulosa
e estômago viciado à digestão salgada
Fome e sede do Itapecuru
Com quantos dentes mastigas as vidas
engolidas por ti no escorrego dessa garganta
de correnteza lenta de águas servidas
formando o esgoto com uma só víscera
que secará dia-a-dia
face à derrubada de tua cabeceira vegetal
expondo margens de areia quente
sob mil sóis cáusticos
em contra partida
na simbiose maldita e mais rara
com agonia são retiradas de ti
vidas que saciam estômagos famintos
ao teu pasto serviçal de acasalados espíritos
em corpos vivos e armados com ferro e nylon
mergulhados na tua parca lâmina líquida
vestida e suprida de dejetos
que amputam os braços afluentes
a oferecer veredas secas
à mesa de tua morte anunciada...
Mendigo
Em grito por água
a voz rouca fugida da goela seca
é a única canção da sede
em quem estende a mão aberta
ao aceno por pão
para ocupar o vazio
habitat da fome.
PUBLICIDADE