Féretro
Deitarei na madeira fôrma.
pagada estará a luz dos meus dias e noites
- sol, lua e estrelas fogem da vida terminada -
o amarelado fogo das velas envoltas
iguala-se ao meu pálido corpo inerte
e estendido qual iguaria posta à mesa do velório.
já estará faminta a profunda cova
aberta com a língua úmida da morte
e os dentes afiados no cio da solidão.
Naturezas:
A animal,
o instinto criou o coração em mim
dividido em faces iguais -
A divina, à fé acasalou o espírito
noutro eu aglutinado
pelas emoções diferenciadas.
Qual porção é a verdade minha?
O cérebro – juiz da razão –
emudecido à resposta lógica
sobre eu nenhum compreendido.
Eu
Preso às circunstâncias grupais
escravizo-me em inúteis fugas
alheias à unicidade.
sem encontrar abrigo individual
multiplico as buscas pelo zero
à esquerda de mim.
Caminhos
Muitas pedras num rumo certo.
seguir, em passos firmes.
final feliz, conseguir acerto.
chegar jamais, erros demais, não ir além.
Sentença
Incriminar o errado
julgando-o seu
sob o domínio.
Possesso é, pois, o réu
em submissão contínua
a calar-se ante a verdade
dita nos momentos errôneos.
Possessiva é, pois, a juíza
sem dar de si
um mínimo perdão
incriminado à condenação.
Construção em nicho
De qual nutrição se serviu a raiz,
para edificar o ser em barro?
... se, em lágrimas de sofrimento,
não basta a heterogênea mistura
de areia e cimento que arquitetam o esqueleto
na forma da armação
coberta de carne, nela, afixada
pelo molho do sangue.
é, pois, o nada, que restar do concreto
e tudo à eternidade.
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