Uma data especial é 10 de agosto. O dia 10 de agosto é simbólico para todos os maranhenses que amam a sua literatura, por várias razões, mas duas em especial. Primeiro: foi na manhã de 10 de agosto de 1823 que nasceu, em Caxias, o maior poeta do todo o Século XIX – Antônio Gonçalves Dias.
datas, desde a Idade Média, são símbolos de celebração. Comemoravam-se os dias santos com grande pompa, seja nas missas, em novelas, procissões ou em outras celebrações. Eram dias muito festivos, com direito a feriado e tudo mais.
A Partir do Século XVI, o culto aos santos continuou em todas as cidades católicas, com toda a força que vinha desde a Idade Média.
No Século XIX, acrescentou-se às datas religiosas o Dia da Independência. O Sete de Setembro passou a ser comemorado em quase todas as províncias brasileiras logo nos anos de 1820. Gonçalves de Magalhães, em seu livro Suspiros Poéticos e Saudades, de 1836, dedica um poema à Independência do Brasil. Na Bahia, a data é 2 de julho, dia em que os baianos expulsaram as tropas portuguesas, contrárias à independência do colônia. No Rio Grande do Sul, a data de celebração é 20 de setembro, marco da Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha. No Maranhão, o dia de sua “independência” é 28 de julho. E, particularmente, em Caxias a data de 1° de Agosto, é comemorada a Adesão à "Independência do Brasil" ao jugo português.
No Século XX, outras datas entraram no calendário festivo, sobretudo para alavancar as vendas no comércio, como o dia das mães, o dia dos pais, o dia dos namorados, o dia das crianças. Outras, como o dia do soldado, dia do professor, também devem ser mencionadas. A partir dos anos 80, nas escolas, atentou-se também para outras datas, como o dia do livro, dia da poesia, entre outras.
Neste Século XXI, precisamos, no Maranhão, redescobrir o nosso maior patrimônio: a nossa cultura – seja ela popular ou erudita. Nossos antigos professores já nos diziam: “ninguém ama o que não conhece. É preciso conhecer para poder amar”. Dessa forma, a Literatura Maranhense, por ser patrimônio cultural de todos os brasileiros, merece, da parte da sociedade e do poder público, uma atenção tão especial quanto à nossa cultura.
Precisamos inserir nas escolas maranhenses, seja do Ensino Médio ou do Ensino Fundamental, o debate sobre a nossa cultura, sobre a nossa história, sobre a nossa formação social. É um dever de todos nós permitir que nossos jovens conheçam a sua cultura.
Dessa forma, uma maneira de valorizar a cultura literária é celebrar, numa data especial, o Dia Estadual da Literatura Maranhense, e, especialmente, em Caxias, o Dia Municipal da Cultura. E que dia seria esse? Uma data especial é 10 de agosto.
O dia 10 de agosto é simbólico para todos os maranhenses, e, especialmente, para nós caxienses, que amamos a literatura, por várias razões, mas duas em especial. Primeiro: foi na manhã de 10 de agosto de 1823 que nasceu, em Caxias, o maior poeta do todo o Século XIX – Antônio Gonçalves Dias. O autor de Primeiros Cantos, com a Canção do Exílio, deu a todos os brasileiros uma identidade cultural. A Literatura Brasileira, segundo Antonio Candido, passa a ter um caráter nacional a partir dos Românticos, entre eles tem destaque o poeta de Os Timbiras. Segundo: foi na noite de 10 de agosto de 1908 que doze intelectuais fundaram a mais antiga instituição literária do Maranhão – A Academia Maranhense de Letras. Liderada por Antônio Lobo, os seguintes “imortais” tomaram posse nas doze primeiras cadeiras da AML: Barbosa de Godois, Domingos Barbosa, Antônio da Costa Gomes, Justo Jansen, Fran Pacheco, Luso Torres, Alfredo de Assis, Vieira da Silva, Inácio Xavier de Carvalho, Astolfo Marques, José Ribeiro do Amaral e Clodomir Cardoso.
Poderíamos ainda citar a Academia Ludovicense de Letras, intitulada Casa de Maria Firmina dos Reis, a nossa primeira romancista, fundada em 10 de agosto de 2013.
Por fim, precisamos de uma política não só acadêmica, mas, sobretudo, governamental (tanto do Governo Estadual como das prefeituras municipais) para que possamos valorizar ainda mais nossa literatura. É inconcebível que alunos de uma cidade como Codó passem três anos no Ensino Médio e não ouçam sequer falar do seu conterrâneo Godofredo Viana, autor do romance Por Onde Deus não Andou, ambientado nessa cidade. Como disse Castro Alves, em seu poema O Livro e a América: “Oh! Bendito o que semeia/ Livros... livros à mão cheia.../E manda o povo pensar!”, a literatura precisa chegar a todos os cantos do estado, seja por meio de concursos literários promovidos pelos órgãos institucionais, seja nas salas de aula, com professores e alunos lendo e discutindo os nossos autores. A Literatura Maranhense é um dos nossos maiores patrimônios culturais, mas cabe à sociedade, às universidades e aos governos valorizar e torná-la viva para que continue dando muito orgulho não só ao Maranhão, mas a todo o Brasil. E, criando uma data para celebrar a cultura literária, dando um devido valor à grande arte de Odorico Mendes, de Trajano Galvão de Carvalho, de Arthur Azevedo, de Aluísio Azevedo, de Graça Aranha, de Humberto de Campos, de Viriato Corrêa, de Josué Montello, de Ferreira Gullar, de Nauro Machado, para citar apenas alguns dos nomes de nossa literatura, estamos valorizando a literatura. Que em todos os dias do ano, nossa cultura seja celebrada, mas que, no dia 10 de agosto, ela se torne rainha, como disse o poeta Casimiro de Abreu, referindo-se a sua terra (o Brasil): “Todos cantam sua terra,/Também vou cantar a minha,/Nas débeis cordas da lira/Hei de fazê-la rainha”.
Portanto, para fomentar a lembrança à nossa cultura literária eis duas poesias de Gonçalves Dias, que nos cobram esse dever cívico e patriótico à bravura e soberania dos maranhenses, caxienses e brasileiros.
CANÇÕES GONÇALVINAS
Sem dúvida, a Canção do Exílio é um dos mais emblemáticos poemas da fase inicial do Romantismo. Nele, o autor expressa o nacionalismo ufanista (patriotismo exagerado) por meio da exaltação da natureza.
O poema Canção do exílio foi escrito durante o Romantismo (1836-1881), na sua primeira geração. A preocupação central dos autores era a definição da identidade nacional brasileira tempos após a Independência do Brasil (1822).
Já a CANÇÃO DO TAMOIO, de Antonio Gonçalves Dias, um poema laudatório de qualidades idealizadas do indígena brasileiro, que simboliza o herói nacional, conforme ideário do Romantismo do século XIX, se dirige a um guerreiro Tamoio, enaltecendo sua coragem e ousadia para lutar por conquistas e honrar o nome do pai.
CANÇÃO DO EXÍLIO
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
CANÇÃO DO TAMOIO
Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.
II
Um dia vivemos!
O homem que é forte
Não teme da morte;
Só teme fugir;
No arco que entesa
Tem certa uma presa,
Quer seja tapuia,
Condor ou tapir.
III
O forte, o cobarde
Seus feitos inveja
De o ver na peleja
Garboso e feroz;
E os tímidos velhos
Nos graves conselhos,
Curvadas as frontes,
Escutam-lhe a voz!
IV
Domina, se vive;
Se morre, descansa
Dos seus na lembrança,
Na voz do porvir.
Não cures da vida!
Sê bravo, sê forte!
Não fujas da morte,
Que a morte há de vir!
V
E pois que és meu filho,
Meus brios reveste;
Tamoio nasceste,
Valente serás.
Sê duro guerreiro,
Robusto, fragueiro,
Brasão dos tamoios
Na guerra e na paz.
VI
Teu grito de guerra
Retumbe aos ouvidos
D’imigos transidos
Por vil comoção;
E tremam d’ouvi-lo
Pior que o sibilo
Das setas ligeiras,
Pior que o trovão.
VII
E a mãe nessas tabas,
Querendo calados
Os filhos criados
Na lei do terror;
Teu nome lhes diga,
Que a gente inimiga
Talvez não escute
Sem pranto, sem dor!
VIII
Porém se a fortuna,
Traindo teus passos,
Te arroja nos laços
Do inimigo falaz!
Na última hora
Teus feitos memora,
Tranquilo nos gestos,
Impávido, audaz.
IX
E cai como o tronco
Do raio tocado,
Partido, rojado
Por larga extensão;
Assim morre o forte!
No passo da morte
Triunfa, conquista
Mais alto brasão.
X
As armas ensaia,
Penetra na vida:
Pesada ou querida,
Viver é lutar.
Se o duro combate
Os fracos abate,
Aos fortes, aos bravos,
Só pode exaltar.
PUBLICIDADE