Amor! enlevo d'alma, arroubo, encanto
Desta existência mísera, onde existes?
Fino sentir ou mágico transporte,
(O quer que seja que nos leva a extremos,
Aos quais não basta a natureza humana;)
Simpática atração d'almas sinceras
Que unidas pelo amor, no amor se apuram,
Por quem suspiro, serás nome apenas?
A inútil chama ressecou meus lábios,
Mirrou-me o coração da vida em meio,
E à terra fez baixar a mente errada
Que entre nuvens, amor, por ti bradava!
Não te pude encontrar! — em vão meus anos
No louco intento esperdicei; gelados,
Uns após outros a cair precípites
Na urna do passado os vi; eu triste,
Amor, por ti clamava; — e o meu deserto
Aos meus acentos reboava embalde.
Em vão meu coração por ti se fina,
Em vão minha alma te compreende e busca,
Em vão meus lábios sôfregos cobiçam
Libar a taça que aos mortais of’reces!
Dizem-na funda, inesgotável, meiga;
Enquanto a vejo rasa, amarga e dura!
Dizem-na bálsamo, eu veneno a sorvo:
Prazer, doçura, — eu dor e fel encontro!
Dobrei-me às duras leis que me impuseste,
Curvei ao jugo teu meu colo humilde,
Feri-me aos teus ardentes passadores,
Prendi-me aos teus grilhões, rojei por terra...
E o lucro?... foram lágrimas perdidas,
Foi roxa cicatriz qu'inda conservo,
Desbotada a ilusão e a vida exausta!
Celeste emanação, gratos eflúvios
Das roseiras do céu; bater macio
Das asas auribrancas dalgum anjo,
Que roça em noite amiga a nossa esfera,
Centelha e luz do sol que nunca morre;
És tudo, e mais qu'isto: — és luz e vida,
Perfume, e vôo d'anjo mal sentido,
Peregrinas essências trescalando!...
Também passas veloz, — breve te apagas,
Como duma ave a sombra fugitiva,
Desgarrada voando à flor de um lago!
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