Caxias-MA 23/11/2024 00:49

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Wybson Carvalho

Recanto do Poeta

Gonçalves Dias: O Mar


Oceano terrível, mar imenso

De vagas procelosas que se enrolam

Floridas rebentando em branca espuma

Num pólo e noutro pólo,

Enfim... enfim te vejo; enfim meus olhos

Na indômita cerviz trêmulos cravo,

E esse rugido teu sanhudo e forte

Enfim medroso escuto!

 

Donde houveste, ó pélago revolto,

Esse rugido teu? Em vão dos ventos

Corre o insano pegão lascando os troncos,

 

E do profundo abismo

Chamando à superficie infindas vagas,

Que avaro encerras no teu seio undoso;

Ao insano rugir dos ventos bravos

Sobressai teu rugido.

Em vão troveja horríssona tormenta;

Essa voz do trovão, que os céus abala,

Não cobre a tua voz. — Ah! donde a houveste,

Majestoso oceano?

 

Ó mar, o teu rugido é um eco incerto

Da criadora voz, de que surgiste:

Seja, disse; e tu foste, e contra as rochas

As vagas compeliste.

E à noite, quando o céu é puro e limpo,

Teu chão tinges de azul, — tuas ondas correm

Por sobre estrelas mil; turvam-se os olhos

Entre dois céus brilhantes.

 

Da voz de Jeová um eco incerto

Julgo ser teu rugir; mas só, perene,

Imagem do infinito, retratando

As feituras de Deus.

Por isto, a sós contigo, a mente livre

Se eleva, aos céus remonta ardente, altiva,

E deste lodo terreal se apura,

Bem como o bronze ao fogo.

Férvida a Musa, co'os teus sons casada,

Glorifica o Senhor de sobre os astros

Co'a fronte além dos céus, além das nuvens,

E co'os pés sobre ti.

 

O que há mais forte do que tu? Se erriças

A coma perigosa, a nau possante,

Extremo de artificio, em breve tempo

Se afunda e se aniquila.

És poderoso sem rival na terra;

Mas lá te vás quebrar num grão d'areia,

Tão forte contra os homens, tão sem força

Contra coisa tão fraca!

 

Mas nesse instante que me está marcado,

Em que hei de esta prisão fugir p'ra sempre,

Irei tão alto, ó mar, que lá não chegue

Teu sonoro rugido.

Então mais forte do que tu, minha alma,

Desconhecendo o temor, o espaço, o tempo,

Quebrará num relance o círc'lo estreito

Do finito e dos céus!

 

Então, entre miríadas de estrelas,

Cantando hinos d'amor nas harpas d'anjos,

Mais forte soará que as tuas vagas,

Mordendo a fulva areia;

Inda mais doce que o singelo canto

De merencória virgem, quando a noite

Ocupa a terra, — e do que a mansa brisa,

Que entre flores suspira. 


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