Caxias-MA 18/07/2025 18:11

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Wybson Carvalho

Recanto do Poeta

Gonçalves Dias: A escrava


O biem qu’aucun bien ne peut rendre,

O Patrie, ó doux nom que l’exil fait comprendre!

Marino Faliero

 

Oh! doce país de Congo,

Doces terras d’além-mar!

Oh! dias de sol formoso!

Oh! noites d’almo luar!

 

Desertos de branca areia

De vasta, imensa extensão,

Onde livre corre a mente,

Livre bate o coração!

 

Onde a Ieda caravana

Rasga o caminho passando,

Onde bem longe se escuta

As vozes que vão cantando!

 

Onde longe inda se avista

O turbante muçulmano,

O Iatagã recurvado,

Preso à cinta do Africano!

 

Onde o sol na areia ardente

Se espelha, como no mar;

Oh! doces terras de Congo,

Doces terras d’além-mar!

 

Quando a noite sobre a terra

Desenrolava o seu véu,

Quando sequer uma estrela

Não se pintava no céu;

 

Quando só se ouvia o sopro

De mansa brisa fagueira,

Eu o aguardava — sentada

Debaixo da bananeira.

 

Um rochedo ao pé se erguia,

Dele à base uma corrente

Despenhada sobre pedras,

Murmurava docemente.

 

E ele às vezes me dizia:

— “Minha Alsgá, não tenhas medo:

Vem comigo, vem sentar-te

Sobre o cimo do rochedo.”

 

E eu respondia animosa:

— “Irei contigo, onde fores!”

E tremendo e palpitando

Me cingia aos meus amores.

 

Ele depois me tornava

Sobre o rochedo — sorrindo:

— “As águas desta corrente

Não vês como vão fugindo?

 

“Tão depressa corre a vida,

Minha Alsgá; depois morrer

Só nos resta!… — Pois a vida

Seja instantes de prazer.

 

“Os olhos em torno volves

Espantados — Ah! também

Arfa o teu peito ansiado!…

Acaso temes alguém?

 

“Não receies de ser vista,

Tudo agora jaz dormente;

Minha voz mesmo se perde

No fragor desta corrente.

 

“Minha Alsgá, por que estremeces?

Por que me foges assim?

Não te partas, não me fujas,

Que a vida me foge a mim!

 

“Outro beijo acaso temes,

Expressão de amor ardente?

Quem o ouviu? — o som perdeu-se

No fragor desta corrente.”

 

Assim praticando amigos

A aurora nos vinha achar!

Oh! doces terras de Congo,

Doces terras d’além-mar!

 

Do ríspido Senhor a voz irada

Rábida soa,

Sem o pranto enxugar a triste escrava

Pávida voa.

 

Mas era em mora por cismar na terra,

Onde nascera,

Onde vivera tão ditosa, e onde

Morrer devera!

 

Sofreu tormentos, porque tinha um peito,

Qu’inda sentia;

Mísera escrava! no sofrer cruento,

“Congo!” dizia.


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