Caxias-MA 23/11/2024 04:32

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Wybson Carvalho

Recanto do Poeta

Poemas ao meu habitat e a mim mesmo


Pedaços de um eu algum 

Há no meu eu o pulsar de um desejo

e no qual há, ainda, o quê, agora, almejo;

que o fim do somatório da minha dor

não interrompa os gritos do clamor; 

face a um pedaço ser bem emudecido em mim,

e o meu outro resto é ouvido, mas ruim...

 

A sinfonia que me invade desde o nada

é bem-vinda, ainda que quase desafinada;

e eu a quero para sempre almejada

ainda que pouco executada;

face a um pedaço inaudível ser ilusão,

e o meu outro resto não, mas real solidão...

 

E os versos que, agora, eu escrevo

que não sejam lidos e cantados com desvelo;

mas, como a unicidade do momento

de um poeta  imerso em seu eterno tormento;

face a um pedaço ser calado em mim,

mas o meu outro resto é ensurdecedor e ruim.

 

Um sobrevivente à síndrome “Stevens Johson” 

 

Houve um incêndio afótico dentro de mim.

em trevas e sob a cremação da carne putrefata

emergiu o emudecido veneno

qual direito da alma acasalar-se,

puramente, em si,

e sob correção ao estrago 

da cicatriz na natureza humano-espiritual.

 

Porém,

 

Haverá nova folhagem 

ao homem salvo pela Divindade Criadora

que purificou e lapidou 

o bruto complexo psicofísico da criatura.

 

Então,

 

A vida torna-se um fiel canto para o encanto de renascer...

 

Canção ao exílio 

 

Na minha terra havia  palmeiras e o canto dos sabiás.

nela, exalava o perfume dos jardins urbanos.

dela, ouvia-se a linguagem singela do cotidiano.

com a minha cidade crescia a romântica dos poetas...

 

A inimizade humana passava por sobre ela

em eólica turbulência rumo às outras plagas,

para derramar-se noutros cenários de ganância existencial.

 

À minha terra, na infância, ouvia-se sinfonias sabianas

nas manhãs iniciais de um futuro já desenhado ao abandono. 

e, agora, quais árvores darão abrigo a outros pássaros canoros

para entoar um canto de saudade?

 

Personagens 

 

Sou espinho entre rosas    

que são belezas no jardim;

abrigo ao pontiagudo perigo

em iminência contínua de ferir...

 

Sou veleiro errante num mar de calmarias

atracado em porto plácido;

mas, sob pesadelos de ventanias

e ressacas possíveis...

 

Sou  foco que somente resplandece

sob a luz de estrela única;

advinda de céu cinzento

que só se enche de nuvens turvas...

 

Sou barulho que a se próprio ensurdece;

rendendo-se em sangue esvaído;

às quedas da moldura de carne

que ao álcool retornará...

 

Sou travessia destinada às mágoas

de mesmice acumulada;

quanto mais existida

mais e mais se embriaga...

 

Cachos de flores

(ode a Caxias)

 

Quem amou, verdadeiramente, te chamou de princesa 

e quando quiseram arrancar de ti o sumo nobre...

não aceitou beber o cálice com teu sangue

 

Quem ama, fielmente, te chama de lírica poesia 

e quando querem declamar de ti o poema nativo...

atenta para ouvir os versos brancos do teu véu

 

Quem nunca amará, em verdade, 

te trairá sob cunho promíscuo...

e quando quiserem usufruir de ti 

a beleza em ônus mercenário...

ofertará a plebe de teu reino 

e te deixará órfã de viva natureza...


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