Cremação
Os raios de fogo ao corpo inerte
são fachos de luz
à angústia adormecida
sob um céu sem acesso
para a alma amputada
e sob o pranto de sangue derramado sem fé
à mendicância do perdão julgado.
Onipresença
Quando a matéria inválida tombar
obediente à natureza cumprida
e imergir ao barro...
estórias de liberdade
serão tecidas sobre o ser
que não mais está cíclico ao meio...
livre é ser sem estar
e sido em sendo o verbo, ainda.
Fome
Ausência de iguarias
nos recipientes à mesa
do oferecimento aos desvalidos...
presença do vazio
nas vísceras do estômago
embrulhado pelo papel da sociedade...
Ordens em vão
Homens ávidos à paz
a insidiarem a causa da ira.
as armas frias e de fogo
não mais mancharam o mundo,
então,
a intenção de viver
paira em novas certezas.
porém,
a vida continua tão insuficiente
que não alcança o mínimo…
Incerteza
o que terá sido do nascido sem vida?
apenas erro da natureza...
o que terá sido do ausente e esquecido?
apenas fugitivo passageiro da agonia...
o que será daquele que virá...?
Retrato vermelho
coração,
bate fora de mim exalando sangue,
para que possam sentir próximo:
tenho uma vida.
coração,
age e leva o meu corpo à atitude animada,
para que possam ver próximo:
sou natureza.
Obra da cor
Ilusões estratificadas;
retificando cores: o branco e preto
inépcia social;
estabelecendo classes: a dominante e a oprimida.
porém,
o gozo natural
é capacidade animal dos homens à digna igualdade:
toda vida na mesma líquida luz vermelha do sangue.
Esquecer à míngua...
Ao silêncio ensurdecedor
faz-se o pranto;
ao falar inexistente
faz-se o espanto...
mesmo, assim:
ao reverso desse universo;
faz-se o mendigo verso...
porém;
quais palavras em poesia
têm peso de lembranças
na branca página do papel...?
Eternidade...
Quando eu partir,
plantarei uma semente de saudade no solo do coração de quem se lembrar e gostar de mim a fim de germinar, nascer e brotar em flores o perfume da lembrança para sempre...
ah, a memória obedecerá ao amor de quem se lembrar e gostar de mim feito de distância e silêncio que não se vê e só se sente, mas nem todas as sensações cabem num tempo infinito e, então, preces serão rogadas aos céus - com beijos e abraços - de quem se lembrar e gostar de mim...!
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