Naturezas
A animal,
o instinto criou o coração em mim
dividido em faces iguais -
a divina, à fé acasalou o espírito
noutro eu aglutinado
pelas emoções diferenciadas.
qual porção é a verdade minha?
talvez,
o cérebro – juiz da razão –
emudecido à resposta lógica
sobre eu nenhum compreendido.
Eu
preso às circunstâncias grupais
escravizo-me em inúteis fugas
alheias à unicidade.
sem encontrar abrigo individual
multiplico as buscas pelo zero
à esquerda de mim.
Caminhos
Muitas pedras num rumo certo.
seguir, em passos firmes.
final feliz, conseguir acerto.
chegar jamais, erros demais, não ir além.
Sentença
Incriminar o errado
julgando-o seu
sob o domínio.
possesso é, pois, o réu
em submissão contínua
a calar-se ante a verdade
dita nos momentos errôneos.
possessiva é, pois, a juíza
sem dar de si
um mínimo perdão
incriminado à condenação.
Construção em nicho
De qual nutrição se serviu a raiz,
para edificar o ser em barro?
... se, em lágrimas de sofrimento,
não basta a heterogênea mistura
de areia e cimento que arquitetam o esqueleto
na forma da armação
coberta de carne, nela, afixada
pelo molho do sangue.
é, pois, o nada, que restar do concreto
e tudo à eternidade.
Nós
O que queres?
se não me dás o que sobra de ti
e o teu resto já bastaria
à falta daquilo que te dei de mim
e não me devolves.
Os poetas
Andarilhos sob um mesmo calvário.
anjos ou demônios terráqueos.
pretensiosos, querem adivinhar
a cor da ambiência celestial ou infernal.
inépcia, é a conclusão desse verbo escrito.
Correnteza do pranto
Em sentido único
as lágrimas escorrem
como carícias na face entristecida.
caem ao chão onde piso
e inundam meu horizonte
imergindo os pés sob passos afogados.
Inanimado
Desde o nascimento,
existo em uma queda constante.
até agora,
mão nenhuma me levanta
da existência vazia.
o caminho da vida, que não há,
arbitra meus passos
por sobre a morte estendida.
nela, estará meu abrigo
em fúnebre eternidade.
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