A sessão da última segunda-feira, 23, na Câmara de Vereadores de Caxias, sinalizou como a partir de agora será o comportamento de seus parlamentares em relação ao poder executivo municipal. Mesmo com a grande maioria dos edis comprometida com o prefeito Fábio Gentil (PRB), a verdade é que, não somente a oposição, mas boa parte da base de apoio ao alcaide, não irá estar mais tão empenhada em defender o governo, e isso acontece porque ninguém tem coragem de confrontrar o povo que está reclamando muito e passou a comparecer às reuniões do legislativo às segundas e quartas-feiras.
Esse tema já fora abordado pela coluna no ano passado, quando expomos a tese de que a bancada governista não conseguiria seguir defendendo a gestão contra as denúncias dos vereadores que fazem oposição no município, isso simplesmente porque nenhum parlamentar chapa branca teria a coragem de sustentar o insustentável, já que as denúncias contra a gestão não são um capricho ou posição ideológica de oposicionistas, mas demandam dos mais diversos segmentos do povo caxiense, incomodados com os descalabros que todos dias passaram a ser rotina no noticiário desengajado da cidade. E o povo reclama, com razão, de todo o tipo de desassistência do poder público, e tem cobrado dos vereadores a legítima defesa dos seus interesses.
Como tem feito ao longo do ano, a bancada da oposição, composta pelos vereadores Catulé (PRB), Daniel Barros (PDT) e Luís Lacerda (PCdoB), oportunamente tem trazido para o plenário do legislativo as demandas do povo, e as reivindicações se concentram sobre a precariedade do serviço de saúde, onde é cada vez mais difícil para as pessoas terem acesso a uma consulta ou um a exame médico, reclamam que falta merenda nas escolas para as crianças, assim como denunciam a precariedade em que se acham muitos logradouros e vias públicas, sem esquecerem também o estado em que se encontram as estradas da zona rural, ora intrafegáveis, mas ameaçadas de levar comunidades do interior ao isolamento com a chegada das chuvas que são esperadas para depois do mês de dezembro.
Até bem pouco tempo ainda estava dando para a turma governista ir levando o assunto em banho maria, demonstrando altruísmo em justificar a gestão aliada, sobretudo procurando denegrir a imagem dos oposicionistas, por meio de argumentações que os colocavam como pessoas rancorosas, invejosas e irresponsáveis ao pautarem reclamações contra o governo. Na última segunda-feira, porém, diante de um plenário repleto de expectadores reclamando de cortes salariais, que aplaudia a oposição, só restou mesmo à bancada governista levar o encontro a um esvaziamento da sessão, uma vez que o povo presente claramente mostrava disposição para vaiar quem ousasse defender os feitos da administração do município.
Os vereadores oposicionistas, diante de absurdos salariais revelados dentro da pasta da educação, chegaram a propor uma convocação oficial à chefia da pasta da Educação para explicar os disparates que já são conhecimento de toda a cidade. E o mais incrível é que ficou no ar que a ideia pode muito bem ser apoiada por colegas governistas, já que a edilidade pressente que nada irá ganhar apoiando incondicionalmente o governo como vem fazendo. O raciocínio é claro, porque sem receber as benesses prometidas às suas bases eleitorais, dificilmente um vereador, vereadora, continuará com o espaço conquistado na política caxiense, principalmente abreviando a vida na seara de quem está em primeiro mandato.
Em razão dos escândalos que estão se sucedendo, que têm diminuído sobremaneira a imagem do prefeito perante a população, imaginam que talvez não seja um bom negócio continuar aceitando a indicação do grupo para a próxima sucessão municipal. E a coisa é mesmo preocupante, porque já estão lançando o ungido abertamente em campanha eleitoral, mesmo sabendo que tais ações certamente já estão sendo denunciadas pelos opositores à Justiça Eleitoral. Nas redes sociais, é flagrante a propaganda eleitoral antecipada, sempre associando a imagem da candidatura aos pretensos feitos do governo.
Ora, por muito menos o ex-prefeito Ezíquio Barros Filho foi afastado do cargo em 1999, acusado de ter sido beneficiado, embora sem qualquer participação física ou de imagem, pelo trabalho que o ex-prefeito Paulo Marinho fez ao regularizar imóveis no bairro Nova Caxias, nos meses finais da sua gestão, que, óbvio, tinha Ezíquio Barros Filho como candidato oficial e, posteriormente, se sagraria vencedor da eleição municipal de Caxias.
Não estivesse a maioria de nossos edis atrelados à escabrosa política do toma lá dá cá que impera em nosso país, com toda certeza o espaço estaria falando de providências firmes do legislativo para controlar a gestão municipal e levá-la a conduzir o serviço público caxiense com muito mais esmero do que acontece na realidade. Nos últimos dias, por exemplo, foi uma vergonha saber que os postos de combustíveis não estavam atendendo veículos da prefeitura por falta de pagamento. E, assim, a grande maioria dos caxienses tem de continuar a sofrer muitos infortúnios, enquanto uma pequena minoria de apaniguados goza de todas as oportunidades dos recursos que chegam para toda a população.
Nesse contexto, impressiona a falta de desfaçatez com que agentes políticos e assessores do atual governo se lançam para continuar usufruindo de tudo o que é bom em Caxias, inclusive intentando dar sobrevida à moribunda gestão que começou a se derreter aos olhos da opinião pública. Não foram poucas as vezes que chamamos a atenção de que bastaria trabalhar honestamente pelo bem-estar da cidade, suprindo convenientemente as demandas reclamadas pelo povo. No entanto, perigoso como é, o poder costuma cegar quem está em seu meio, roubando a sensatez das decisões para dar lugar à indiferença, à prevaricação e coagir com dureza os que reclamam.
O momento, portanto, é de confronto entre o povo e os caras de pau da política caxiense, que querem porque querem continuar mamando nas tetas do poder, e de qualquer forma, inclusive batalhando por uma vaga na Câmara Municipal na próxima legislatura e até criando coragem para ser opção na sucessão municipal. No entanto, a palavra final será do eleitorado, que com toda certeza não deseja a manutenção da política de favorecimento de poucos em volga no município, até porque o grosso da população não participa do governo.
O povo espera por candidaturas com programas de governo que melhorem a vida das pessoas e não somente pelos que se apoiam em obras de fachada que pouco resolvem as dificuldades do dia a dia, cujas licitações só trazem benefícios para quem não tem o menor compromisso com o desenvolvimento da cidade. Nesse aspecto, basta observarmos que não há qualquer investimento nos logradouros públicos que não foram feitos pela atual gestão, gerando uma péssima impressão para quem visita Caxias.
Assim, de louvável mesmo, ressaltar somente o esforço do pessoal do Centro de Controle Zoonoses em vacinar animais domésticos e a turma da limpeza que, aos trancos e barrancos, está empenhada diariamente em manter a cidade limpa ainda que os caçambeiros não recebam em dia pelo trabalho realizado. Houve investimentos na educação, com melhoria na infraestrutura das escolas públicas, mas como foi feito esse trabalho ainda é uma incógnita, e talvez por isso há vereadores propensos a convocar a secretária de Educação a prestar esclarecimentos.
Na quarta-feira que passou não houve sessão legislativa na casa do povo, por falta de quórum, ou seja, número insuficiente de vereadores para regimentalmente realizarem a reunião parlamentar. Ressabiada, talvez a maioria não tenha comparecido temendo ser vaiada pelos expectadores.
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