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Fábio Kerouac

Um poeta caxiense em Hamburgo

No aeroporto às moscas


 
Eu amanheci ouvindo notícias tristes vindo da Espanha. Elas passavam na RTVE (Rádio e Televisão Espanhola) e anunciavam a luta daquele país contra o coronavírus, uma luta em que alguns países, como a Espanha, Itália e Estados Unidos, estão perdendo neste exato momento. Por enquanto o boxeador (coronavírus) está ganhando por pontos! Não sei o porquê, mas lembrei da música Comfortably Numb, do Pink Floyd, e do verso que diz "When I was a child I had a fever"… talvez porque a febre é um sintoma desta doença que no Brasil alguns otários, que seguem um "otário", chamam de gripezinha, porque o otário-mor assim a considera!
 
Mesmo com o coronavírus pairando no ar em Hamburgo (aqui já mataram 19 pessoas) eu resolvi dar uma saída, resolvi ir ao aeroporto da cidade. Quando tomei essa decisão "temerosa" eu estava tranquilo diante do meu computador, lendo notícias do mundo afora enquanto ouvia jazz na AccuRadio. Antes de sair com uma máscara a tiracolo, ouvi "Speak No Evil", com Wayne Short e Elvin Jones, e ainda "Take Five", com The Dave Brubeck Quartet.
 
 
No trem S1 com destino ao Airport/Poppenbüttel, fui ouvindo Supertramp, enquanto sentia o belo sol atravessar o vidro da janela ao meu lado e tocar o meu rosto. Um sessentão de cabelos curtos e um brinco na orelha esquerda estava num banco a mais de 5 metros de mim… atrás de mim, a mais de 5 metros, uma garota de gorro pink mexia no seu celular. Eles eram os únicos que estavam por perto quando eu peguei o trem em Stadthausbrücke, perto da minha casa. Três estações depois, uma depois da Estação Central, é que entrou mais dois passageiros. Quando chegamos em Ohlsdorf, quando os vagões se separam (três vão pra Poppenbüttel e três vão para o aeroporto) nós éramos 7 passageiros, mas somente eu e mais dois que entraram ali, em Ohlsdorf, seguimos até o aeroporto. Nenhum de nós estava com uma mala de viagem nas mãos.
 
 
 
Quando cheguei no aeroporto parecia que eu estava num cemitério, pois o silêncio era sepulcral, principalmente no Terminal 2, onde as escadas rolantes até estavam desativadas, impedindo o acesso ao andar superior onde ficam guichês de embarques de algumas companhias aéreas. Fui ali pela escada normal e conferi que nenhuma funcionava, ninguém estava ali, pois ali também não tinha passageiro algum.
 
Resolvi ir ao Terminal 1 e cruzei com alguns gatos pingados, 5 ou 6 viajantes, e vi mais gente no supermercado Edeka, onde entrei e comprei uma coca-cola e um suco de laranja. Vi mais alguém enquanto subia as escadas rolantes do Terminal 1 (estas estavam funcionando) e me dirigi ao andar superior onde estão o McCafé e o Café Bon Gusto, ambos fechados; passei entre eles e atravessei a porta rotatória para ir pra varanda e ali ver os aviões e tomar a minha coca-cola sentado sob o belíssimo sol. Na minha companhia, à distância e à esquerda, alguém falava ao telefone. À minha direita alguém estava de bobeira. Mais adiante, um outro brincava com sua filha e observava o único avião ali estacionado. Eram 13h18min.
 
Tomei minha coca-cola enquanto ouvia no meu Ipod Eric Clapton e Wynton Marsalis e logo fui embora. Prometi voltar no dia seguinte, pois ali, com aquele sol, aquele silêncio e sem muita gente por perto, eu estaria seguro do coronavírus quando não estivesse em casa.
 
 


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