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Leitura e sua aplicação na cidade


Sempre que se lê um livro voltado a sua área profissional obviamente você imagina a aplicação daquele conteúdo em seu próprio campo de atuação e claro, em sua cidade. Assim sou, quando leio um livro sobre urbanismo e patrimônio histórico. Ao tempo que percorro as páginas de cada uma dessas publicações, me aprofundando nas políticas de planejamento urbano e preservação histórica pelas cidades do mundo, imagino aquela literatura inserida e trabalhada em Caxias. As transformações por qual elas passaram, suas problemáticas discutidas entre profissionais e administradores, projetos aplicados com seus sucessos e fracassos. Junto com os exemplos da falta desses planejamentos que transformaram muitas cidades em grandes áreas desiguais para a maioria de seus cidadãos, com péssimos serviços de transporte, saneamento básico, habitação e lazer. Nos livros sobre preservação do patrimônio arquitetônico é como fazer uma viagem sem sair do lugar, conhecendo diversas localidades de povos de diferentes culturas, materiais e imateriais, e como eles encararam a preservação de sua história e memória, continuando a manter suas tradições ao tempo que se desenvolviam integrando o passado, presente e planejando o futuro. E muitas dessas cidades tiveram grandes perdas em seu acervo arquitetônico e artístico, o que fizeram com que seus cidadãos, guiados e orientados por profissionais, intelectuais e políticos interessados, refletissem e buscassem soluções para a melhorias de seus serviços, realizando grandes intervenções em seus centros urbanos.     

E quanto mais leio e estudo esse mercado editorial, mais desesperançoso fico, pois é visível o quanto nossa Caxias está distante dessas cidades. Ver a preservação de igrejas em São Luís, Salvador, Recife e Olinda, de forma plena de acordo com normas arquitetônicas nacionais que existem há décadas e compara-las com a situação atual das daqui, é uma tristeza. As agressões que nossas igrejas sofreram em suas fachadas, piso, parede e teto chegam a ser gritantes, chocantes e obviamente inadequadas. Uma simples leitura dessas levam qualquer pessoa a essa conclusão. A situação de nossos logradouros públicos então é tão preocupante quanto o nosso acervo arquitetônico. Ocupação indevida de comercio informal, totens comerciais pelas calçadas, rampas irregulares, pesado tráfego de automóveis são só alguns exemplos que prejudicam uma simples caminhada por Caxias. Os exemplos de intervenção de sucesso nessas cidades brasileiras citadas, sem falar nas outras pelo mundo, onde a intenção é o retorno dos centros para os pedestres e demais cidadãos está em pauta desde o fim do século passado. É gritante a falta de interesse e capacidade em planejar nosso crescimento e desenvolvimento de forma inteligente, dinâmica e sustentável.

Ao ler o livro Cidade para Pessoas, do arquiteto Jan Gehl, onde ele aborda a necessidade das cidades em oferecerem qualidade de vida a seus cidadãos via projetos urbanísticos, valorizando espaços, fico imaginando essas soluções em nossa cidade. Morte e Vida de Grandes Cidades, uma crítica feroz e necessária da escritora americana Jane Jacobs, questionando o caminho em que as cidades tomaram em seu desenvolvimento, mas que Caxias está rumando normalmente sem questionar. Andar nas calçadas aqui do centro, desviando de tantos obstáculos que não deveriam estar ali, me vem à cabeça o livro Cidade Caminhável, do urbanista Jeff Speck. Caxias não é uma cidade caminhável. 

Está tudo ali, não é possível’, penso eu comigo mesmo. Parece meio óbvio os problemas que surgem em Caxias, os mesmos que já ocorreram nas grandes cidades. E as soluções aplicadas nelas se demonstraram um sucesso em partes, tudo disponível nessas leituras.

Atualmente estou debruçado no livro Cidades do Amanhã: uma história intelectual do planejamento e do projeto urbano do século XX (Editora Perspectiva, 4ª Edição, 2016). Nele o urbanista e geografo inglês Peter Hall (1932/2014), trata das cidades no século XX (período que vai de 1900 a 1999). Da mesma forma das leituras citadas acima, o autor aborda as transformações das grandes cidades do mundo neste período, seus planejamentos e tentativas de aplicação de novas ideias. Não vou me estender sobre seu conteúdo pois ainda não o conclui. Mas tratar do século XX é essencial para entendermos os erros de nossa cidade. Um período nunca visto na história das cidades devido a várias transformações sociais, como o automóvel, iluminação elétrica, comunicação (telefonia e internet), computadores e outras maravilhas da modernidade que potencializaram a forma de trabalhar. Desde então as cidades passaram a aglomerar a maior parte de sua população, antes locadas no campo rural.

Caxias iniciou esse século como a 2º mais importante do Maranhão, tanto economicamente quanto em população e o encerrou na 6º posição em ambas. Um declínio em um estado que igualmente desandou, se tornando o mais pobre do Brasil. Com fraco desempenho industrial, comercial e produtivo, passamos por fenômenos que desgastaram muitas cidades brasileiras, como êxodo rural, contribuindo para o crescimento desordenado. A falta de políticas de habitação e planejamento urbano, ajudaram a criar essa malha complexa e irregular em que nos encontramos hoje. O uso coletivo perdeu espaço para o privado, na base de invasões de terra, interesses e ganhos particulares com a ausência do Poder Público em gerir de forma adequada políticas urbanas e de preservação.

Passados 20 anos do início deste novo século XXI, permanecemos iguais ao século passado. Sem marcos regulatórios (leis, normas), que são a base para aplicações de planejamento, não conseguiremos pensar uma cidade do presente, muito menos do amanhã, como nos apresenta Peter Hall.

Embora esses livros sejam voltados a estudantes e profissionais da arquitetura, urbanismo, geografia, etc... deveriam ser lidos pelas demais pessoas das mais diversas áreas e profissões (principalmente nossos políticos), pois eles são um diálogo de como devemos defender a nossa cidade. Nenhum deles possui cálculos, termos linguísticos específicos, complicados gráficos ou tabelas. É aberto a todos.

Se boa parte das pessoas os lessem e refletissem, com certeza as cidades estariam melhores. E nossa Caxias, construindo um novo caminho.


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