A segunda-feira, 15, amanheceu amarga e desanimadora para a política de Caxias. Vítima da Covid-19, o deputado estadual José Gentil Rosa, aos 80 anos de idade, completados no último 18 de maio, falecera em Teresina, onde se submetia a tratamento médico de internação, tentando nos últimos sete dias superar a doença grave que o abatera repentinamente. Com sua morte, fecha-se mais uma página do livro onde estão anotados os nomes dos homens públicos da terra que honravam a velha maneira de fazer política, aqui entendendo-se a situação do ponto de vista da ação social, do diálogo sincero e da costura de alianças benéficas para o progresso do município.

Após eleger-se vereador e sagrar-se Presidente da Câmara Municipal na segunda metade da década de 70 do século século passado, e depois, nos anos 80 e início dos 90, representar Caxias em três mandatos na Assembleia Legislativa do Maranhão, Zé Gentil, como era conhecido popularmente, e que também foi um desportista  apaixonado (Rodoviário, Caxiense etc), suspendeu suas atividades políticas sem conseguir acalentar o velho sonho de governar seu torrão natal. Mas como o viver em política só cessa quando se deixa de existir, quis o destino que seu filho, Fábio José, conquistasse a Prefeitura de Caxias na eleição de 2016, para que ele, de maneira quase mágica, aos 78 anos, dois anos depois, vencesse novamente uma eleição de deputado estadual, e desta feita com a surpreendente votação de mais de 62 mil sufrágios, mais de 31 mil granjeados só na Princesa do Sertão.

Para se entender como isso foi possível e o fez tirar o pijama da aposentadoria, basta atentar-se para o modo como ele via a vida. Zé das Mães sempre esteve por aí como se a dizer-nos que ela é boa e sempre cheia de novidades, e que ficar atento, não importando a idade, esperar o momento certo chegar, com paciência, é sua maior oportunidade. E foi isso o que ele fez, logo que se certificou de que o filho prefeito teria muitas dificuldades para governar, se não tivesse apoio sólido na esfera estadual. Entrou na eleição de 2018 com a simpatia de sempre, e ganhou mais uma vez o direito de representar Caxias, carreando emendas e obras para a administração municipal.

A sua ausência no cenário da política local abre também uma lacuna difícil de ser preenchida, se não deixou ninguém mais orientado para seguir seus passos e manter firme o timão do navio da aliança que ajudou a construir com a família Marinho, para ganhar o poder da cidade e traçar estrategicamente a rota que essa nau estaria por singrar em mares da política ainda desconhecidos.

Influente no poder, soube manter em posição reservada e segura os que costumam se aproximar para colher dividendos pessoais da gestão. E, mesmo octogenário, abriu espaço no seu grupo para jovens de cabeça mais arejada prosperarem, o que não deixa de ser uma prova de que apostava firme no futuro da sua facção política. A expectativa geral é saber se conseguiu plantar confiança, paciência, firmeza de decisões e disposição, muita disposição para dialogar, fatores indispensáveis para o bem conduzir e sobreviver na política.

Com a pandemia do novo coronavírus ainda em franca expansão no solo gonçalvino, seus opositores vão fazer de tudo agora para desacreditar o que seu legado fez à essa altura de uma pré-campanha eleitoral caxiense, por assim dizer, fora do comum, sem dia das mães e festas juninas presenciais, na qual, a grande maioria dos litigantes, pelo menos para os lados da vereança, não tem certeza de nada. E estão certos, posto que os tempos são outros e está valendo inclusive os engodos das chamadas fake news digitais, capazes de alçar desconhecidos ao estrelato e reduzir a pó quadros de representatividade testada e comprovada.

Por outro lado, antes de se internar, com respiração ofegante, ele não esqueceu de gravar uma mensagem para as pessoas teimosas que insistem em ignorar a presença da Covid-19 em Caxias, repreendendo-as para cuidarem mais da higiene pessoal, usarem máscaras e, mais importante, a se resguardarem nos relacionamentos sociais, como têm orientado as autoridades de saúde desde o início da pandemia.

Se você não sabia, este era o Zé Gentil que encantava a todos que o conheciam. Mesmo doente e ainda confiante em sua recuperação, jamais deixou de lado o cuidado que sempre fez questão de acalentar por seus conterrâneos. Por isso não despreze seu último conselho. Valeu… Seu Zé!!!

Trégua para reflexões

O passamento inesperado do deputado Zé Gentil não trará apenas luto, saudade e o sentimento de melancolia peculiares a todos os familiares que perdem o chefe da família. Talvez por respeito, há uma espécie de trégua no terreno da política caxiense. Não obstante, mesmo abalado e ainda preso certamente a forte comoção, o prefeito Fábio Gentil (Republicanos) não poderá deixar de lado as ações da política, cuidar da nefasta pandemia, porque, com toda certeza, seria essa a diretriz que seu saudoso pai lhe passaria nesse momento crucial da campanha eleitoral caxiense. A hora, portanto, é de lembrar dos conselhos que ele lhe passou para seguir adiante no projeto de vida que escolheu tempos atrás.

Reeleger-se e fortalecer ainda mais a sua base de sustentação deve ser o próximo objetivo. À essa altura dos acontecimentos, quando a pandemia deixou de render-lhe dividendos e entrou perigosamente no espaço da sua popularidade, é imperativo cuidar para que nada fuja da sua atenção. Na Câmara, por exemplo, vereadores da sua base entraram em perigoso conflito de espaço, cada um a seu modo encontrando um jeito de abrir lugar na disputa eleitoral. Diálogos impublicáveis, vez por outra, aparecem nas redes sociais e mesmo no próprio grupo dessa confraria.

No fundo, é grande a preocupação de todos com os fenômenos desagradáveis que possam advir com a propagação de fakes news e boatos nas redes sociais, dado que a figura do influencer nunca esteve tão em moda quanto agora, e as pessoas, não só as mais jovens, mas todos os sonhadores, complexados, ou desiludidos com a vida, estão por aí presos aos smartphones, à procura de uma válvula de escape para seus infortúnios pessoais, e a classe política, é uma delas.

Sem medo de errar, todos que lhe façam oposição e ambicionem o cargo do Paço Municipal da Pantheon, vão procurar os meios que estiverem ao alcance para reduzir a vantagem que Gentil desfrutava quando se iniciou essa pré-campanha eleitoral. São blogs, canais de televisão e de rádio, todos os dias mostrando essa ou aquela fraqueza da administração, não importando se a falha seja perdoável ou resolvível com uma ação mais oportuna da Secretaria de Infraestrutura ou dos abnegados profissionais que estão lidando com a pandemia da Covid-19 nos hospitais da cidade.

Mesmo com o pagamento do salário do funcionalismo em dia, pago até com antecipação todos meses, não convém deixar nenhuma ponta solta com a categoria. Um último complicador nesse nível surgiu no meio da semana, quarta-feira (17), quando um grupo de servidores do Ministério do Trabalho, acompanhados de agentes da Polícia Federal, adentrou no canteiro de obras do futuro Shopping do Cidadão, na avenida Otávio Passos, para investigar denúncia do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil. A reclamação maior é a de que os trabalhadores da obra não recebem salário há três meses, um problema ocasionado talvez pela presença da pandemia, mas fato que certamente concorre para mais uma baixa na popularidade do prefeito.

Por outro lado, os principais adversários na disputa pela prefeitura, o grupo Soares/Coutinho, estão mais aliviados nos últimos dias por duas razões. A primeira, é que o prefeito Ferdinando Coutinho (PDT) mantém-se firme e em vantagem na luta por sua reeleição no vizinho município de Matões, fato que trouxe mais ânimo aos membros da aliança. A segunda, por saberem que o prefeito de Caxias perdeu a forte base que tinha na Assembleia Legislativa Estadual.

Não foi à toa que passou a circular também a informação de que o deputado federal Paulo Marinho Júnior (PL) estaria em rota de colisão com FG para lançar-se, ele próprio, candidato a prefeito já nesta eleição de 2020. Óbvio que alguns correligionários de PMJ sonham com isso. Até o líder do PL no Estado, deputado federal licenciado Josimar de Maranhãozinho, vislumbra também a possibilidade.

Mas, daí isso vir a acontecer, embora tudo que esteja ao alcance da política possa mudar, a lógica impulsiona o raciocínio de que os dois ainda estarão juntos nessa próxima eleição e mantendo o curso do caminho há muito preestabelecido. Mesmo porque, se existe alguém mais interessado em vencer as próximas eleições, esse nome é Paulinho, que no futuro ficará à frente de um grupo político mais forte às suas eventuais iniciativas e pretensões.