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Obrigado Milson Coutinho


Partiu nesta semana (04/08), um desses personagens que transformam nossa vida para melhor. Sim, transformam porque quem faz literatura, como a histórica, muito mais do que elevar nosso conhecimento teórico nos instiga a questionar o presente, refletir decisões sócio-políticas e entender melhor os acasos e tragédias passadas. No meu caso, esse personagem foi Milson Coutinho.

Recordo que desce criança quando vivia na biblioteca do meu pai, folheando livros em busca de ilustrações para poder copiar em meu caderno de desenho, certo dia vi aquele livro de capa azul com um simples rabisco do poeta Gonçalves Dias, ladeado por duas palmeiras. Era o ‘Caxias das Aldeyas Altas’, datado de 1980.

Não recordo se existe na bibliografia de Caxias um livro anterior a este que trate de forma completa a história de Caxias. Por décadas, o livro que serviu de base para todos os historiadores que buscavam estudar a nossa história foi o Dicionário Histórico e Geográfico da Província do Maranhão, de Cesar Marques (1870), aliás, usado até os dias atuais. Outros volumes que relatavam Caxias vieram em seguida, como os de José Ribeiro do Amaral, Abdias Neves, as Enciclopédias dos Municípios do IBGE, entre outras publicações que fizeram registros dos municípios maranhenses. Mas esses livros apenas relataram os registros de César Marques, ou então, citavam a localidade Caxias durante a Balaiada ou Adesão. Sem falar nas biografias de Gonçalves Dias, Coelho Neto e Vespasiano Ramos, que também citavam a cidade como terra natal dos ilustres e era possível extrair alguma informação. O ‘Caxias das Aldeyas Altas’ foi um livro sobre a cidade de Caxias. 

O folheava sem muito interesse, pois criança adora livros com figuras e como aquele não havia nenhuma, apenas lia uma ou outra página por pura curiosidade. Esse foi o meu primeiro contato com a história de Caxias. Por muitos anos ele ficou lá, no meio de muitos livros e por pouco não foi jogado fora com as limpezas que minha mãe fazia na casa jogando ‘coisa velha’ e objetos acumulados. Mesmo com o carinho que meu pai tinha pelos livros, um ou outro que não foi guardado de forma adequada e estava repleto de mofo e traças, era descartado.

Já adolescente e curioso, lembrei daquele livro nas coisas de meu pai e fui em busca dele na esperança de conhecer mais sobre minha cidade. Será se foi para o lixo? Será se alguém o pegou? Pensava enquanto remexia prateleiras e armários em meio a tanto papel disperso. Achar aquele livro quase perdido foi como descobrir um tesouro. E na verdade foi. Pois redescobrindo aquele volume, me despertou uma paixão por Caxias, tamanha era sua vocação história em meio a tantas glórias próprias que a incluíam na história nacional.

Quando montei meu primeiro site da internet sobre a cidade, em 1998, foi o velho livro azul que serviu para escrever sobre a história de Caxias. Na verdade, fiz uma cópia dos textos ali contidos sobre a Adesão de 1823, a Balaiada e sobre personalidades como Gonçalves Dias e Coelho Neto. Se serviu para que eu conhecesse a história, serviu para muitos internautas, estudantes e pesquisadores que não possuíam o livro. Afinal, este foi o primeiro site sobre a cidade de Caxias em um período em que a internet ainda era remota e era inexistente bibliografia histórica local. Em 2005 o livro foi reeditado pela Prefeitura Municipal, revisto e ampliado, também com fotos coloridas da cidade e seus principais pontos históricos.

Outro livro que causou grande impacto em mim sobre valorizar ainda mais a minha cidade, foi ‘Caxienses Ilustres’ (2002). No dia de seu lançamento em Caxias, no auditório da Academia Caxiense de Letras, solenidade ocorrida em 10 de agosto de 2002, eu estava em São Luís em período de aulas da faculdade. Tentei de todas as formas ir a este evento, pois adorava as festas da ACL em que exalava cultura e história. Mas infelizmente não foi possível estar presente. Liguei preocupado para minha mãe e a convenci de ir até aquela festa apenas para comprar um volume do livro e ainda, conseguir um autografo do autor. Minha mãe que não era de sair e muito menos ir a festas e eventos sociais, foi e ainda conseguiu o livro com dedicatória em meu nome.

Caxienses Ilustres traz uma lista, incompleta claro, pois todas as listas são incompletas como afirma sempre meu confrade Carvalho Junior, de caxienses que se destacaram de uma forma ou de outra, nacionalmente ou não. Foi uma descoberta complementar a de ‘Caxias das Aldeyas Altas’. Neste livro, conheci caxienses que nunca houvera falar, como Celso Antônio Silveira de Meneses o qual passei a admirar imediatamente. Como pode uma cidade desse ‘quilate’, com tanta personalidade, ignorar completamente seus filhos e suas glórias? O fervor pela cidade em mim só cresceu desde então. Formado em arquitetura, retornei a Caxias onde passei a militar a favor de nossa história, patrimônio e cultura em geral.

Esses dois livros me ajudaram a transformar no que sou hoje. A bibliografia histórica caxiense deve muito a esse maranhense ilustre.

Guardo com muito carinho Caxias das Aldeyas Altas (as duas edições), Caxienses Ilustres, além de outros livros que igualmente serviram para minhas pesquisas. E quem diria que, anos depois, eu fosse seu confrade na ACL e no IHGC.

Milson de Souza Coutinho nasceu na cidade maranhense de Coelho Neto (09/03/1939) e faleceu em São Luís (04/08/2020). Escritor, pesquisador, professor, historiador, jurista e Desembargador. Foi Presidente do Tribunal de Justiça do Maranhão e da Academia Maranhense de Letras. Era Membro Efetivo de diversas academias e institutos. Em Caxias, da Academia Caxiense de Letras (Cadeira Nº10, fundada por Osmar Rodrigues Marques) e Membro Fundador do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias (Cadeira Nº 24).

Obrigado Milson Coutinho!


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